Na última quinta-feira (28), o auditório da Aduferpe ficou lotado. Mais de cem pessoas vieram assistir à palestra do professor Márcio Pochmann. Eram dezenas de estudantes, técnicos(as) e docente, além dos dirigentes de entidades estudantis e da ADUFPB. Todos queriam ouvir o economista da Unicamp e ex-presidente do IPEA nos governos Lula e Dilma, versando sobre o tema “A Reforma Trabalhista e a Precarização do Trabalho Docente na Universidade Pública” que deu início ao primeiro encontro do Ciclo de Palestras da Aduferpe.
Antes de começar a palestra do economista, foi projetado um vídeo em homenagem ao estudante Edson Luís, assassinado pela ditadura em 28 de março de 1968 – motivo da instituição desta data como o ‘Dia Nacional de Lutas Em Defesa da Educação Pública e Contra a Reforma da Previdência’.
Para a maioria dos presentes, sua palestra foi considerada ‘quase uma aula magna’, como disse uma estudante da UFRPE. O professor Pochmann começou analisando o quadro de mudanças externas ‘quase ingovernáveis’, que hoje interferem em nossa realidade, ‘em decorrência da globalização’. Ele considera que já vivemos uma ‘segunda onda globalizante, que questiona fronteiras e coloca a maioria das instituições a reboque das grandes corporações.’
Nesse contexto, segundo o professor, é preciso ‘repensar os sujeitos históricos’, pois se trata de ‘mudanças na infraestrutura’, que interferem na dinâmica das classes sociais. Para Pochmann, essas alterações provocam uma reconfiguração em toda a sociedade, tornando ainda mais premente a necessidade de ‘redistribuir ganhos’.
Ele lembra que, com o avanço da sociedade tecnológica, o capitalismo apontava para uma ‘sociedade superior’, que demandaria menos trabalhadores – uma realidade que acabou não se concretizando. Ao contrário, os serviços ligados à tecnologia passaram a gerar cada vez mais empregos, embora com vínculos mais independentes, que alteram radicalmente as relações entre empregados e empregadores.
UM MUNDO EM MUDANÇA – Para fundamentar a evolução das formas de poderio entre as nações, o professor Pochmann fez uma rica retrospectiva histórica, analisando como as ‘novas ordens mundiais’ se estabeleceram. Ele elencou o papel de impérios muito antigos, como o chinês e o hindu, até chegar às novas formas de poderio tecnológico, geradas em sociedades mais modernas como a inglesa, alemã ou estadunidense.
Pochmann lembrou o papel preponderante das guerras no estabelecimento de novos mercados, bem como a instalação de modelos industriais como base do sucesso das nações contemporâneas. E mostrou como o Brasil ‘entrou no jogo’, a partir das inovações na produção – sobretudo, com o papel desempenhado pelos imigrantes em nossa industrialização.
Sua leitura clareou a compreensão de como as chamadas empresas transnacionais ‘colocaram em cheque os estados nacionais’, provocando uma reconfiguração do capitalismo em todo o mundo. Ele apontou o fato de que ‘apenas quatro das grandes corporações, se somadas, alcançam um faturamento igual ao de um país como o Brasil’… E que isso forçou muitos países a praticarem políticas de resistência.
Outro fator importante, anotado por Pochmann: ‘o atual sistema trabalhista tem seus dias contados, pela ruptura dos sistemas corporativos de trabalho’. Recorrendo à história, o professor lembra que ‘o sindicalismo só se estabeleceu no Brasil na década de 30, quando ainda éramos um país agrário’. E salienta que ‘inovações importantes da época, como os sistemas de ajuda mútua, deveriam ser retomados numa perspectiva de renovação do sindicalismo nacional’.
Segundo Pochmann, há que se rememorar ‘o papel das antigas escolas de arte-ofício, que eram espaços de lazer e de luta, numa concepção bem mais ampla da ideia de associativismo e sindicalismo’. Para ele, trata-se de um conceito que acabou se perdendo no tempo, ‘pela preponderância absoluta da preservação do salário e do emprego, a partir da década de 70’.
O professor também comentou sobre a instituição da Justiça do Trabalho, que ‘agora entra em desmanche’ com a queda vertiginosa nos processos trabalhistas. ‘O trabalho perdeu seu status de direito especial’, segundo ele, sobretudo ‘por efeito do discurso falacioso do empresariado: ou direitos, ou empregos’.
ATAQUE AOS SINDICATOS – Os sindicatos passaram a viver uma ‘asfixia financeira’, decorrente do aumento das negociações individuais, em detrimento das soluções coletivas. ‘Os altos salários tornaram o trabalhador mais qualificado em pessoa jurídica, e ele passa a contribuir com o sistema privado’. Por conta disso, ‘as formas alternativas de contratação vão matando a previdência’, resume o professor.
O professor Pochmann diz que ‘é preciso ousar, tentar um novo caminho como resposta a uma sociedade fraturada, massificada pela miséria’… Ele acentua que ‘a classe média já não tem emprego garantido, pois a educação já não garante sua vaga’. E também atesta o alto índice de desemprego, que atinge um em cada quatro trabalhadores brasileiros – dado que o faz colocar algumas constatações inquietantes sobre nosso tempo: ‘esse capitalismo só produz desigualdade; a tecnologia acomoda as pessoas; a razão se dissimula pela subjetividade’.